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Foto do escritorMiguel Fernández

Carinhoso (amélias)

Era 1971 e Sampa estava repleta de bares com música ao vivo, os piano-bar, fechados, especialmente na região chamada Bela Vista. Bàsicamente MPB, Bossa Nova, Jazz, Blues, e estilos parecidos. Eu adoro música ao vivo, e desse tipo, então ia sempre que podia. Lembro bem do “Jogral” e do “BalacoBaco”, um quase ao lado do outro, na rua Avanhandava, esquina com a rua Augusta, o “Catedral do Samba” e o “Telecoteco na Paróquia”, conhecido apenas como telecoteco, na rua Santo Antonio, o Carinhoso na rua Major Quedinho (ou seria na Álvaro de Carvalho?, por ali). O piano bar do Hotel Othon São Francisco, com a barwoman Ina, seus coquetéis e seu tail.  Na Praça Roosevelt, o Baiuca, no Largo do Arouche um pertinho do Le Casserole, não lembro o nome, estes dois últimos, mais chiques, cantores com mais renome, mais caros.

Freqüentávamos todos, com grande assiduidade, em cada um, uma história.

O Carinhoso era uma casa, um pouco maior que as outras, com música ao vivo, como todas as outras aqui citadas. Música sem parar, das 20 / 21hs até o último cliente, normalmente depois das 02 a 03hs. Excelentes músicos, excelentes cantores(as) (crooners). Lotavam. E muita gente nas ruas. São Paulo era a capital mundial da noite com seus bares (e seus restaurantes).

Durante muito tempo o Rondon contava uma ida ao “Carinhoso”, num sábado à noite em que ficou em sampa com o Kleber. Os dois, solteiros, sentaram em uma mesa, ao lado de um grupo com umas oito moças comemorando o aniversário de uma delas. Conversa-vai-conversa-vem se aproximaram de duas delas e lá ficaram se bolinando até tarde. Houve um momento curioso, elas quiseram ver os documentos dos dois e não se fizeram de rogadas em mostrar os seus. A dele ele não esquece: Amélia.  Saíram os quatro, andando por alí, até onde as duas moravam, e foram convidados para subir. Hoje seriam “mulheres empoderadas”?

Chegando lá, era um apartamento relativamente amplo dividido por umas 4 ou 6 mulheres, no lusco-fusco não dava para saber bem, cada uma com seu colchão no chão e entre um colchão e outro uma cordinha como se fosse um varal para secar roupas com um pano (um lençol?) servindo de biombo entre as camas.

Todos na flor da idade (~25 anos), foi uma festa inesquecível, quando um já ia sossegando, outro casal (ou seria uma só?) gemia um pouco e excitava os demais, começando tudo de novo.

Segundo o Rondon, a Amélia estava no cio, os seios inesquecíveis quase estourando de tão rijos, fartos mas sem exagero, os mamilos pontudos e duros a pele lisa e rija, cheirando a feromônios, o grelo intumescido, saltado e carente, fazendo com que ela mesmo se masturbasse grunhindo, com a boca ocupada em felação, tentando reanimar o parceiro, o olhar convergente, meio vesgo, meio em transe, meio hipnotizada.

Quando os dois não conseguiam mais continuar e se aninharam para um cochilo, foram convidados a se retirar.  As moças precisavam ir trabalhar no domingo (eram enfermeiras) e, ao acordar, havia um código de ética no apartamento: Nenhum companheiro podia dormir lá para não incomodar nem constranger as demais ao clarear do dia. Embora o dia estivesse quase clareando. Foi o que disseram aos três: o Kleber, o Rondon e um outro cara, com história igual, que conheceram ao sair do apartamento, descer as escadas e sair na Martins Fontes, onde os dois heróis pegaram um taxi para a Joaquim Antunes. Pelo menos é o que o Rondon conta. Sobre o Kleber e respectiva, nem um pio. Cara discreto.

Soube que o Rondon ainda saiu mais uma ou duas veze com a Amélia. Uma delas para um fim de semana em Ubatuba, para umas aulas práticas de um curso de mergulho que êle fazia na piscina da ACM, no centro de São Paulo. Na sexta, já escuro, descendo a serra, tiveram que parar no acostamento para, em pé e encostados no carro, engatar pino e olhal, gozarem, se acalmarem, e poderem seguir em relativa segurança. Sexo-orgia, de sexta a segunda. O Sanches, que era nosso chefe e conselheiro, com mais do dobro da nossa idade explicou:

Foi o suficiente para ambos concluírem que não era o que cada qual procurava para si. Ou se era, a aproximação física excedeu e queimou, para ambos, a opção da relação lenta e longa. Ou ainda achavam que tinham tempo para procurar coisa melhor (ou maior!), opção bastante comum para a idade. 

Pelo visto, ficou só na memória, sem queixas nem arrependimentos.  Faz parte da vida.

 

Miguel Fernández y Fernández, engenheiro e cronista, escrito em 2023/2024

4.100 toques,  

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