Em 1998 passei 5 dias em Angola, a trabalho. Angola estava em franca guerra civil. Durante esses 5 dias fomos acompanhados boa parte do tempo um engenheiro angolano, negro de nome Filipe, muito simpático, culto e falante, formado em Portugal.
Dentre os assuntos tratados e conversados, além dos técnicos, como é comum, abordaram-se as diferenças e semelhanças do idioma que falávamos, tanto no sotaque quanto nos termos usados.
Coisas tais como bicha e fila, putos ou miúdos e crianças, e que mesmo em um de nossos países as variações eram enormes, como era o caso de pandorga (no sul do Brasil) papagaio (no nordeste) e pipa (no Rio), também cafifa, quadrado, arraia ou pepeta, no acre e no amazonas.
Como o assunto é apaixonante, e puxado pela palavra “bicha” (fila em Portugal), o Felipe mostrou farto vocabulário e excelente senso de humor e disse em voz alta: soube que no Brasil é assim: no Rio Grande do Sul é “fresco”, em São Paulo é “gay”, em Minas “entendido”, no Rio de Janeiro é “viado”, no Maranhão é “qualira”, no Ceará é “baitola” e na Bahia é “baiano”...
Evidentemente a piadinha pode ser aplicada a qualquer naturalidade.
Nesse momento estávamos (eu, o Ivanildo Calheiros e o Filipe) nos arredores de Luanda, com alguns colegas brasileiros, um deles baiano. Certamente pelo desgaste de estar longe de casa, em clima de guerra, devia estar em seus limites e não gostou, partindo agressivamente para o Filipe e foi preciso conte-lo quase fisicamente... Eu mal acreditava...
Já não se faziam baianos como antigamente... Baiano já “se estressava”.
Miguel Fernández y Fernández
engenheiro e cronista
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