Um dos melhores professores que tive foi o professor de química Victor Maurício Nótrica, nos 3 anos (de 1963 a 1965) do “Científico” (Colegial) do Cap-FNFi e no Curso Vetor (1965 à noite, em Copacabana) , preparatório para os Vestibulares de Engenharia. O Victor também era professor no Colégio Andrews e no Curso Miguel Couto (preparatório para os vestibulares de medicina). Esses cursos preparatórios eram famosos (eram os chamados “cursinhos”) e reuniam os melhores e mais dedicados professores da cidade.
No Vetor, além do Victor lembro do Célio Pinto de Almeida (geometria), do Jorge Miguel Jorge (matemática, que anos depois veio a ser professor de meus dois filhos no Colégio Santo Inácio) o Virgílio (desenho) Furtado (Física), Alegnati (física).
Mas, voltando ao Victor, desde 1965 não o via mais até que, em 1997, 32 anos depois, quando fiz 50 anos, procurei-o pelo catálogo telefônico (em papel, na época era assim), encontrei-o e convidei-o para uma reunião festiva que promovi. Êle compareceu, o que muito me alegrou. Desde então encontrei-o algumas vezes e conversamos generalidades. Êle é um apaixonado pelo ensino. Numa dessas conversas registrei um "causo" que tento transcrever a seguir:
O Victor, de família judaica, estava destinado pela mãe a ser médico (como acontece com 90% dos judeus). Mas se encantou com o professor de química e, para grande desgosto materno, foi fazer o curso de química da Faculdade Nacional de Filosofia.
Em 1954, o Victor ainda aluno do último ano tinha um professor de química, que também era professor de um curso vestibular. Esse professor adoeceu e pediu ao Victor que o substituísse numa aula. O Victor foi. Com medo, mas foi.
Nos “cursinhos” as turmas tinham em torno de 100 alunos e a mensalidade era cara. Afinal os melhores professores precisavam ser bem remunerados para se dedicarem ao assunto. Então, quando o Victor, muito jovem, se apresentou à turma, houve protestos. O Victor ficou constrangido e, inexperiente, sem saber o que fazer, titubeou para começar a aula.
O alvoroço aumentou, até que um dos alunos, pequenino, subiu numa cadeira e com energia, conclamou a turma a se calar e assistir a aula. Alegou que, se o professor havia escalado aquela pessoa, para lecionar, é porque confiava nela e que, de qualquer maneira, naquele momento seria melhor não perder tempo e aprender algo do que ficar reclamando, o que se poderia discutir depois. Especialmente êle que viera do Acre para fazer o vestibular de medicina no Rio, não podia perder tempo.
Face o bom senso e a lucidez da proposta, aliado à energia do pequenino aluno, restabeleceu-se o silêncio, a aula foi dada, a vocação do Victor evidenciou-se e, ali nasceu o professor Victor.
O pequenino acreano era o futuro cardiologista Dr. Enéas, que veio a ser professor de medicina conhecido e requisitado conferencista sobre eletrocardiogramas, em todo Brasil. É o mesmo do “meu nome é Enéas”, candidato avulso à presidência da República, por três vezes (1989, 1994 e 1998), surpreendendo todos pela expressiva votação que conseguiu, sòzinho, nas três ocasiões.
Miguel Fernández y Fernández, Engenheiro e cronista,
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