A ES - Engineering-Science Inc. era uma empresa americana (Passadena?-CA) de consultoria e projetos (design), muito ativa e importante a nível mundial, especialmente onde havia participação do Banco Mundial, do Banco Interamericano para o Desenvolvimento e da Aliança para o Progresso (programa dos USA para estimulo às economias politicamente ocidentais). A especialidade era abastecimento de água e esgotos sanitários. No Brasil, a sede era no Rio, a diretoria composta por dois estrangeiros, o engº Russel, presidente e o Sr. Lopez, administrativo-financeiro.
O escritório de São Paulo – SP, de porte médio, umas 35 pessoas, na rua Bento Freitas ocupando um andar no edifício em que a famosa ODEON também tinha escritórios e estudios de gravação. Os chefes do escritório eram, o Cel. Engº Hélio e o norteamericano Engº Leonard. E pelo menos uns sete engenheiros brasileiros o Hilton, o João, o Manoel, o Rondon, o Sanches, o Botafogo e eu, o mais jovem. Por algum motivos talvez estratégicos, no organograma eu era o responsável perante o CREA-SP. Lembro ainda das competentes secretárias Cleide (muito bonita) e da Salete (periguete sênior), por quem o Helio tinha especial “queda”, dos desenhistas-projetistas Kleber, Kenji e Doroti entre outros.
Em São Pulo, o principal cliente era a COMASP, hoje SABESP, mas havia alguns contratos com o FESB (Fomento Estadual de Saneamento Básico) que dava suporte técnico aos municípios do interior. Lembro bem do projeto do sistema de esgotos do município de Amparo.
Eu me formara em dez1970 na Politécnica do Rio de Janeiro onde havia nascido e minha família vivia. Com isso, embora tenha me adaptado muito bem em “Sampa” acabava indo muito ao Rio, ora por motivos pessoais, ora profissionais. Era um período de confusões políticas, com guerrilhas e repressão, sendo presidente o general Emilio Médici. Por algum motivo, que hoje não lembro, havia comprado passagem para um voo na “ponte aérea São Paulo-Rio” na 4ª feira 12abril1972 à noite.
Nesse mesmo dia 12abr, pouco antes do almoço telefonaram do FESB pedindo uma reunião sobre o contrato de AMPARO. Toda a chefia não estava e como responsável técnico tive que atender. Tentei marcar para a segunda-feira seguinte, mas o interlocutor (*1, o Braga? o Benoit?), foi até um pouco ríspido no telefone:
“_ nós somos o cliente e a reunião será amanhã a tal hora”
“... sim senhor”
Muito aborrecido, cancelei o voo para o Rio daquele dia.
No dia seguinte, tipo 06h30 da manhã, fui acordado, na então casa-república de engenheiros da ES, na rua Aureliano Coutinho, pelo serviço secreto do exército e da aeronáutica. O avião do voo que eu estava marcado para voar, CGH-SDU (congonhas ao santos dumont) às 20h30, um Samurai da VASP, inexplicavelmente (com céu de brigadeiro, como se diz), havia ido bater na serra de Petrópolis, próximo ao distrito de Secretário, com 25 passageiros e uns 10 aeronautas. Morreram todos. Entre os passageiros, alguns muito envolvidos na repressão ao terrorismo de então.
E eu era o único passageiro, com reserva marcada, que cancelou, portanto, um primeiro suspeito a ser averiguado. Tive que ir, junto com as equipes do serviço secreto, para um quartel, até ser esclarecida a iniciativa e a motivação do cancelamento do voo pelo Benoit ou pelo Braga, não sei. O assunto foi esquecido. Mas nasci-de-novo. Hoje, mais de 50 anos depois, um de meus 3 filhos, me instou a registrar esse episódio:
_ Pai, é a estória que já ouvi você contar que mais me marcou! Se você tivesse embarcado, eu, meus irmãos e seus netos não existiríamos!
(*1) Benedito Braga? Benoit de Almeida Victoretti? após mais de 50 anos, minha memória puxa esses nomes, será?
Miguel Fernández, engenheiro e cronista, escrito em 31dez2024
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Essa história tem um pouco a ver comigo. Nessa época eu trabalhava na empresa SCAC , multinacional italiana com matriz em S Paulo especializada em fundações pré moldadas. Da mesma forma ia e vinha constantemente na ponte aérea. Numa manhã de segunda feira embarquei com muita facilidade num voo p S Paulo e o avião estava vazio o que era de se estranhar. Avião decolando, perguntei ao ilustre passageiro mais próximo o que se passava! Resposta : o senhor não está sabendo que estamos num Samurai? Caiu um na serra de Petrópolis por esses dias e ninguém quer voar nele. Fui tranquilo por que aprendi nas aulas do Pardal que estatisticamente é quase impossível caírem dois na sequência.