Era 1988. Os voos do Ecuador para o Brasil (e vice-versa) eram pela VARIG, que pousava em Guayaquil, porto-cidade litorânea (ao nível do mar), em dias alternados, ou seja, dia-sim-dia-não. Acho que o avião ia até o México, parando, e depois voltava. Então, quando era o caso, a VARIG incluía em suas passagens a estadia em um bom hotel, o OroVerde.
Um grupo de 6 brasileiros, gravitando em torno da EMSA (construtora brasileira), envolvidos em um projeto de abastecimento de água para Quito (projeto Papallata), estavam ali reunidos esperando o próximo voo de volta. Cansados do trabalho de campo, no entorno dos 3.000 de altitude, resolveram descansar na piscina do hotel, razoavelmente cheia, pois esse ponto de espera de voos prá-lá-e-pra-cá, dava um certo movimento de gente sem ter muito o que fazer. Era uma cidade aparentemente com poucos atrativos (o Ecuador tem coisas lindas mas a curtíssimo prazo e esperando, ninguém queria se arriscar a perder os voos).
Nessa piscina, nesse dia, ao lado do grupo, destacava-se uma mulher deitada numa espreguiçadeira, tomando sol, com um chapéu e um biquini estiloso. Ao levantar e ir na água, desfilando elegantemente, o pequeno burburinho de conversas entre os homens em todo o entorno da piscina, transformou-se em respeitoso silencio de admiração. Curioso como um repentino silêncio chama atenção de todos.
Morena, cerca de 1,65m, seus pouco mais de 35 anos, escultural, ao perceber que fazia sucesso, aprumou-se ainda mais, desafiando o mundo. Uma Deusa.
Observando a “moça” de tão perto, Gilberto, então com seus 40 e poucos, notou que as unhas das mãos estavam cortadas em um estilo, digamos, brasileiro (bem menos pontudo que o resto do mundo), e resolveu arriscar: foi lá e perguntou à então Rainha da Piscina, se era brasileira.
Não, não era, chamava-se Daisy era chilena, mas morava no Brasil, em Belo Horizonte, e perguntou porquê ele achara que ela era brasileira. Quando êle falou das unhas, a conversa evoluiu, os dois abrindo um sorriso. Os hormônios devem explicar as reações, as atrações. Foi um milagre já não terem feito as malas no mesmo apartamento.
Naquela noite, ao chegar no aeroporto, marcaram assento juntos, por bombordo, ela na janela, ele no corredor. A proximidade, a idade, os cheiros, conduzem as reações bio-quimicas inerentes ao processo e a velocidade em que ocorrem. De madrugada, a cabine do avião às escuras, sobre a cordilheira, sobre a Amazônia, sobre o cerrado, com os cobertores encobrindo a bolinação e disfarçando os movimentos, superaram Sylvia Kristel em Emmanuelle. Talvez tenham sido dignos de um Guiness.
O casal achou que ninguém percebeu, mas o Geraldo Wilson, e o Zé Carlos, ficaram, entre outras coisas, sem dormir, de tanto observar e, além de babar os travesseirinhos da Varig, espalharam a estorinha por aí, valorizando a imagem do Gilberto. Dependendo de quem ouvia a história, claro.
Iniciou-se ali uma amizade e uma cumplicidade que, decorridos quase 30 anos, ainda perdura entre o engenheiro goiano e a médica chilena da OMS (*1).
Recentemente o Gilberto me contou que a Daisy continua com a mesma manicure mineira.
(*1) Organização Mundial da Saúde, médica especialista em reprodução humana, ajudando a população a evitar gravidez e filhos indesejados, uma das atividades mais importantes do mundo para a sociedade, com reflexos na demografia, ajudando a conter o aumento populacional como o Gilberto faz questão de contar, entusiasmado com sua musa e as atividades profissionais dela.
Miguel Fernández, engenheiro e cronista, nov2015
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