Vôlei de Praia
- Miguel Fernández

- há 5 dias
- 6 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
Quem conhecia o Rio pela primeira vez, se espantava com a profusão de “redes-de-vôlei” nas areias das praias, hoje é até esporte olímpico “voley-ball" de areia. Com regras próprias, campeonatos organizadíssimos, essas redes de “vôlei” eram verdadeiras ONGs (organizações não governamentais), com propósitos honestos, pertencendo a grupos de pessoas que se cotizavam para comprar o material, pagar alguém para montar, desmontar, manter e guardar a rede e as fitas de demarcação da “quadra”. Verdadeiros clubes bem administrados. A pessoa só “entrava” se apresentado por outro já sócio. Ou se enturmando lentamente, com muito jeitinho. As partidas eram disputadas com “dois’ ou com “quatro” jogadores” de cada lado da rede inclusive times mistos formados por rapazes e moças. Hoje também tem muito do tal “futevôlei”, que começou um pouco depois mas ainda naquela época.
Em frente ao antigo Fred’s (depois Hotel Meridian com a famosa boite Regine’s, depois Windsor, hoje Hilton), na esquina da Av. Atântica com Av. Princesa Isabel, houve um grupinho, de uma dessas “redes”, com estatuto e até nome (“clube dos golfinhos”?). No carioquês, ali é parte do bairro do Leme, extremidade Leste da praia de Copacabana. Êle era antigo frequentador daquele ponto da praia, mas com a tribo dos nadadores do Clube Guanabara e moradores do bairro de Botafogo. Deve ter sido por volta de 1969 ou 70, que um outro colega, o Jorge, que conheceu na faculdade, morava no Leme, e já era “sócio” da tal “rede”, o incluiu no grupo.
Nessas “redes”, todos se conheciam e ninguém se conhecia muito. A maioria chegava dava um “oi”, conversava, jogava umas partidas, ia embora e pouco se sabia delas. Mas outros criavam mais vínculos. Eram uns 30 “sócios” pagantes, com prioridade para jogar, e uns 30 participantes não pagantes, que só jogavam quando faltava socio pagante para completar os “times” ou quando eram muito bons jogadores e os “donos” dos times os convocavam. Havia uma hierarquia subentendida que nunca entendeu bem. Talvez ninguém ali entendesse, mas que havia, havia.
Nosso amigo Adir, diz que esses grupos, que se formavam no entorno das redes, a organização, o convívio, a cultura sui-generis, mereciam um estudo antropológico a nível de doutorado. Será que alguém fez? Ou só ficaram copiando / adaptando teses estrangeiras?
Na “golfinhos” havia uns seis, tidos como “coroas” (significava a partir dos 45 mais ou menos). Da sua faixa etária, lembra do Guilherme, do Maurício, com a Lucia desde que os conheceu, do Pedro, do Caio, do Júnior, do Neto, do Orlando, do Juarez e de umas meninas. Estávamos todos na flor da idade, ou seja, todos lindos.
Também andaram frequentando essa “rede” ex pessoal da seleção brasileira de futebol, como o Jairzinho e o Telê, que sempre levavam (ou atraiam) gente famosa, mas ninguém se entusiasmou pois o Telê era muito mandão, reclamava de todos nos jogos de vôlei e não jogava bem. Acabou sendo devolvido à sua insignificância kkkk. O Telê era agradável e ótima pessoa, “gente fina”, mas insuportável durante as partidas de vôlei de praia.
Ontem, andando na areia da praia, por ali, casualmente, encontrou o Orlando. Não o via há mais de 20 anos. Nem sabe como se reconheceram. Ficaram tão contentes em se rever que foram almoçar ali em frente, no “Taberna Atlântica”, que ainda existe (deve ter mais de 80 anos). Começaram lembrando das meninas, a referência foi o ano de 1977 ou 78, por causa de uns episódios mais marcantes havidos.
A primeira que lembraram foi da Terezinha, moreninha “minhon”, “certinha”, um “pitéu” como se dizia na época, tinha uns 20 anos, morava em Botafogo, era secretária e estudava secretariado na FGV.
Outra era a prima, da Terezinha, a Carla, uns 22, igualmente minhon mas um pouquinho mais alta e esguia, estudante de psicologia, também ia à praia ali, mas embora de corpo fosse ainda melhor, de rosto a Terezinha prevalecia.
Havia competição entre as duas primas. Quando algum dos rapazes se interessava por uma, a outra pulava na frente, e era sexo certo. Quem experimentou, ou melhor, foi experimentado, certamente pelas duas, ficou sabendo do incrível arrepiar da pele de ambas ao fazerem sexo. No fundo elas é que resolviam tudo, quem, quando, como, onde e quantas. Igual às amazonas das lendas.
Havia também a Ruth, uns 28, nem bonita nem feia de rosto, “loiraça” de olhos verdes, médica recém-formada, belo corpo, pouco mais alta que a Carla e a Terezinha. A Ruth era charmosa e simpática, mas introvertida, ficava “na dela” e mantinha uma certa distância da rapaziada, ou seja, menos “conquistadora dos sete mares”.
Todos iam à praia ali todos os sábados, domingos e feirados, com muito poucas “ausências”. Na época, a moda era se bronzear.
Num carnaval dessa época, as “redes” do entorno marcaram jogos de “vôlei de praia” à “fantasia-de-sujo” (significava todo mundo vestido do outro sexo), para o domingo. No sábado, o pessoal já estava naquele espírito de carnaval, todo mundo um pouco, digamos, “licencioso”. O Orlando (então com uns 30anos), que paquerava quem passasse por ali, se animou e perguntou à Ruth, que morava ali em frente, se não teria uma roupa de mulher que fosse “descartável” para ele usar no jogo do dia seguinte. Para sua surpresa ela imediatamente se ofereceu para arrumar a roupa, mas disse que também queria uma de homem, também “descartável”.
Trato feito, não sabe bem como, Ruth envolveu a Terezinha na história. Passaram a ser duas roupas de homem (ternos velhos) por uma de mulher. Então a Ruth foi no seu apartamento, bem em frente, na Av Atlantica, buscar uma roupa usada e, quando o Orlando viu que, para caber, precisava uma costureira, a Ruth organizou uma ida à casa do Orlando, na moto dele, para buscar os ternos que ele não queria mais e, à noite fazerem os ajustes na base do alinhavo. Sabe-se lá o que as duas conversaram, foram os 3 na Honda 360 do Orlando. Êle não acreditando que estava com as duas, de biquini na garupa, mas ao mesmo tempo achando que uma ia “empatar” a outra no apartamento dele, que morava sòzinho ali pelo Morro da Viúva.
Era êle no “guidon”, a Terezinha atras dele agarrando nele, pele com pele e, por fim a Ruth agarrando a Terezinha. Elas que se arrumaram nessa ordem. A Terezinha de recheio do sanduiche.
Chegando no seu apartamento com as duas, pegou dois ternos que já não usava e, incrédulo, viu a Ruth apagar a luz do quarto, que ficou na penumbra e tirar o próprio biquini e o da Terezinha para experimentar a roupa, tudo na frente dele. A Terezinha, meio sem jeito e parecendo não entender bem, mas querendo se passar por experiente-avançada-desinibida, foi deixando, até que a Ruth não se conteve mais, agarrou a Terezinha e começou a beija-la e lambe-la. Terezinha arrepiou, eriçou poros e pêlos, de forma inacreditável, e dali foi correr “pro abraço”.
Enquanto a Déa “imobilizava” a Terezinha na cama, num movimento tipo de judô-no-chão, os sexos das duas, babando de lubrificação, passavam na frente do Orlando que, a determinada altura, não se conteve, passou saliva no membro e penetrou a “periquita” mais disponível à sua frente. Achava que era a da Terezinha, mas foi a da Ruth. Só percebeu quando ela tentou protestar, mas era tarde pra voltar atrás (ou pra trás), era fato consumado. Como diz um ditado, “se é inevitável, relaxa e aproveita”. E assim foi.
A Ruth ficou reclamando que fora uma “sacanagem” com ela, que o Orlando estava sem camisinha, que ejaculou dentro, mas acabou assumindo a consequência dos riscos da situação que ela mesmo tinha criado e aproveitou para prolongar e comandar o “ménage” enquanto ajustavam as roupas. A principal preocupação dela era engravidar e durante um mês foi uma preocupação, mas ela não engravidou e começaram uma amizade que frutificou em bastantes situações a partir dali. Melhor acompanhados do que sós...
Como epílogo, com a mudança do Aloysio, eterno presidente do “Golfinhos(?)”, para Santos, o “clubinho” foi acabando e já não existe mais. O local foi redistribuído após uma ressaca que derrubou todos os “paus” ali fincados. Pelo menos metade dos 100 a 150 “sócios e sócias” que passaram por aquela “rede” entre 1970 e 1990, foi morar fora do Rio, metade dessa metade, no exterior, uns para sempre, outros por um bom período. A Teresinha casou com um europeu, teve dois filhos com êle, foi morar por lá e aparece uma vez por ano. A Carla, foi morar para os lados de Curitiba e não se tem notícias há muitos anos. Todos seguiram seus caminhos, discretamente, os que se conheceram melhor mantiveram contato pelo resto da vida. A maioria, de vez em quando, aparece por ali e acaba encontrando alguém. Cada vez menos, o tempo não perdoa.
A nota triste é que, uns 10 a 15 anos depois (1992?), soube-se que a Ruth havia se atirado pela janela, bem ali em frente, na Av. Atlântica, do 8º andar, onde ainda morava com os pais. Deixou uma carta, mas o que estava escrito, nunca “vazou”.
Ficam estas confidências do “Orlando” feitas no Taberna Atlântica, mais de 40 anos depois, voz embargada pela idade, pelo uísque e pelas lembranças.
Miguel Fernández y Fernández, engenheiro, cronista e articulista, membro da Academia Nacional de Engenharia e do Instituto de Engenharia # escrito entre 2020/2021 R2025dezRh, 9.054 toques



Comentários