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  • Foto do escritorMiguel Fernández

Asunción, Paraguay, solteros, 1972

Atualizado: 17 de abr. de 2023

O 13º congresso da AIDIS (Asociación Interamericana de Ingenieria Sanitária) foi em Assunción, Paraguai, em ago1972. Como é bianual dou-me conta que essa nossa associação existe desde 1946. Haja tradição!


Ir a um congresso internacional de sua profissão é um objetivo atraente e interessante, mormente para os recém-formados. O problema são os custos.


Na época, São Paulo tinha um ousado programa de Saneamento Básico, tanto pelo montante quanto pela organização institucional imaginada:


>> havia a COMASP, para produzir água tratada no atacado e fornecê-la aos municípios da RMSP e que construía o sistema Guaraú (+33m3/s!) e o SAM -Sistema Adutor Metropolitano),

>> havia a SANESP (idem COMASP, macro para esgotos no atacado),

>> havia a SBS, o FESB, o DAE, enfim...

hoje tudo junto na SABESP.


Havia muitos recém-formados, como eu e, nessa “jovem-guarda”, muitas engenheiras. Isso é digno de nota pois até então a engenharia tinha pouca presença feminina.


Dentre elas, três queridas e competentes colegas da SANESP: Lúcia, Ana, e Cecília. Para ir a esse congresso em Assunción, elas imaginaram um grupo em dois carros (na época significava dois “fuscas”), 3 pessoas em cada carro, como forma econômica de dividir despesas, com espaço para bagagem. Incorporaram duas amigas da área de medicina: a Maria e a Glória. Mas na época só mulheres por aí ainda era complicado. Nosso colega da COMASP, o Gaspar, foi contemplado com o convite para ir com elas e aceitou o “sacrifício” de ser o homem do grupo. Seis jovens solteiros, na flor da idade sendo 5 mulheres.


Eu fui em um outro carro um dia na frente deles e chegamos a nos encontramos em Foz do Iguaçu. O que passo a contar foi o que presenciei e o que os(as) protagonistas me contaram.


Para chegar a Asunción eram pelo menos dois pernoites no caminho e Foz pedia uma parada de um dia inteiro. O grupo dos seis por economia pernoitava em quartos duplos, o Gaspar fazendo rodizio com as moças para não caracterizar “assédio”. Correu tudo bem, foram, voltaram e permaneceram todos(as) amigos(as). Anos depois Cecília (uma nissei que infelizmente não está mais entre nós), seguramente a mais extrovertida dos seis, brincava dizendo que o Gaspar não cumpriu bem com as obrigações naquele rodízio, referindo-se a uma das colegas do grupo que saiu do armário, mas são outras estórias que não dá pra escrever. Mas dá pra rir muito.


Aliás, falta um paper ou uma tese de mestrado para explicar porque os congressos são tidos como tão, digamos, afrodisíacos. Logo no primeiro dia circulou a notícia de que próximo ao Hotel Guarany (onde foi o congresso) havia uma casa de espetáculos com bons músicos (destaque para as harpas paraguaias) com o ponto alto sendo um imperdível “show” de strip-tease do qual participava uma grande cobra que se enroscava na stripper.


O sucesso era tanto que havia que comprar ingresso antecipado. Colaborava para o sucesso da “casa” os atendimentos, digamos, não convencionais disponibilizados. Era um local amplo, todo em “lusco-fusco” com uns poucos degraus mais iluminados por onde se descia ao salão, boas instalações, ar condicionado (na época quase um luxo), o uísque “legítimo” (ninguém se queixou de dor de cabeça), ou seja, circulou que a relação custo-benefício valia a ida. O locutor que vos fala não resistiu e conseguiu uma entrada para o terceiro dia, creio.


As cinco colegas se assanharam e também quiseram ir ver como era. A intuição do Gaspar fez com que ele se negasse a acompanhá-las naquele “antro” que ainda nem conhecemos. Então fomos num grupo de quatro só da COMASP (os outros dois se não me engano eram o Gabriel e o Paulo). Ao entrar, apesar da pouca iluminação, vi que já conhecia, ao menos de vista, mais da metade dos ali presentes. Entre os congressistas, além dos solteiros e dos casados acompanhados, havia muitos casados(as) desacompanhados(as).


O recinto estava lotado. Cada mesa para quatro tinha 6 pessoas, invariavelmente uma ou mais senhoritas se insinuando. Na verdade, creio que de cada 10 homens que vão a esses lugares 8 não fazem nada pelos mais diversos motivos (alguns por fidelidade, outros por medo de doenças, pelo custo, enfim...). Mas 120% afirmam que fizeram loucuras. Em todos os congressos (outros textos virão) circulam histórias mirabolantes, umas verdadeiras outras nem tanto, mas muito interessantes.


Enfim, estávamos lá na maior animação aguardando o grande show enquanto umas go-go girls se despiam dançando em torno de tubos verticais com os quais se agarravam em magistrais demonstrações de que os tubos não servem só para distribuir água como ensinam na cadeira de hidráulica. Nada como um congresso para conhecer os materiais, os equipamentos e o manuseio dos mesmos!


De repente, assomam nos degraus da entrada as cinco companheiras e um rapaz. Ficamos sobressaltado pois achamos que viriam para nossa mesa por causa do Gaspar. Mas sentaram em outra mesa com o homem que as acompanhava e por lá ficaram.

O show foi anunciado para breve eu resolvi ir ao banheiro preventivamente. Quando entrei, o recinto, embora grande, estava congestionado com muitos brasileiros ali “refugiados” e um aborrecimento geral o pessoal querendo dar porrada no Gaspar: ”_ aquele FDP, trazendo a gurias aqui pô! Elas conhecem nossas mulheres....”. Pensavam quem as acompanhava era o Gaspar. Assunto esclarecido mas não resolvia o impasse com a turma refugiada no banheiro.


Elas estavam acompanhadas do mais tarde famoso engenheiro Manuel Botelho, (autor do livro “Concreto Armado Eu Te Amo”, entre outros). Após algumas confabulações (a segurança do local teve de intermediar e ajudar na argumentação), Botelho e acompanhantes se comprometeram em sair antes de reacenderem as luzes (e cumpriram).


O show foi ótimo, atendendo a expectativa de todos e todas. Lembro bem da trilha sonora e da noite no hotel. Acho que todos(as) lembram. Em tempo: eu também era solteiro.

Miguel Fernández y Fernández, engenheiro consultor e cronista

Escrito em 2017jul, 5.968 “toques”

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