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  • Foto do escritorMiguel Fernández

Bidê & Civilização

Atualizado: 17 de mai. de 2023

(About Bidet, ou “introdução ao estudo do bidê”)


O curso de engenharia civil tinha uma cadeira chamada “Higiene Predial” também conhecida por Instalações Prediais (IP) ou coisa assim. É aquele assunto que trata das tubulações de água, de esgoto sanitário, de drenagem pluvial, de gás, em uma edificação. Muitos dirão: mas que assunto insosso!


Entretanto, se levarmos em conta que passamos boa parte de nossas vidas no banheiro (e na cozinha), veremos que se trata de um assunto importantíssimo. Ler um livro sentado no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar (Raul Seixas), é muito mais complexo e profundo do que ler o mesmo livro ou revista no sofá da sala.


Se considerarmos ainda que alguns períodos passados sobre ou sob as “instalações prediais” são da máxima importância, quer pela urgência, quer pelo alívio quer pelos esforços filosóficos (revisor, é filosófico mesmo por favor) a que somos levados em certos momentos de impasse fisiológico, não é matéria desprezível nem insossa, nem inodora, concordemos.


E os momentos inconfessáveis dos adolescentes trancados nos banheiros? Deles e delas, não me venham com preconceitos. Quantas revistas manuseadas? Quantas Playboy, quantas Ele&Ela, quantas Carlos Zéfiro?


Voltando às aulas de IP, corria o ano de 1969 no curso de engenharia da UFRJ, na Ilha do Fundão, o professor era o engenheiro Nestor de Oliveira. Para êle, o mundo estava dividido em três grupos: a Europa, os EUA e “os outros”. E como êle caracterizava os grupos? Pela existência ou não do acessório de banheiro, feito de porcelana, chamado “bidê”.


Segundo seu peculiar ponto de vista, os EUA eram um país “sem bidet” (afrancesando a pronúncia), fadado a ir da barbárie à decadência sem passar pela civilização, o que era demonstrado pela não adesão ao costume europeu do uso do bidê. Decorridos 50 anos, dou-me conta da excepcional acuidade que tinha o Nestor, para observar essa pérola da antropologia. E não sou só eu que lembro não, o colega José Soares de Matos Fº (o Zé do Jippe), também lembra. E os dois filmes feitos por volta do ano 2000, do Denys Arcand (“Invasões Barbaras” e “A queda do Império”), corroboram a perspicácia, a premonição do Nestor.


Efetivamente, os motivos pelos quais não se usa “bidet” nos EUA são irrelevantes mas deram origem a que as normas americanas excluíssem o “bidet” do território que vai do México ao Canadá, incluindo Alaska e Hawai: uma remotíssima possibilidade teórica de “conexão cruzada” com a rede de água potável, creio que nunca demonstrada na prática especialmente em bidês com chuveirinho (jato vertical ascendente. Só mesmo quando e se usado para imersão, à moda antiga, como cuia, poderia haver um refluxo para a tubulação de água potável. Na prática, paranóia pura.


Também parece que foi por essa época (anos 1970) que começaram a surgir as desconfortáveis “duchinhas higiênicas” como paliativos. Na verdade, argumento para vender uma coisa tosca por refinada e acabar com os bidês diminuindo custos de construção. Quero ver alguém conseguir operar bem uma duchinha (na ponta de uma mangueirinha segurando com uma mão, dentro do vaso sanitário! Entra por onde? Operação no mínimo confusa). Nada contra as duchinhas, que são excelentes para ajudar a limpar o vaso sanitário quando a porcelana fica com resquícios das fezes mais oleosas. Existe ainda uma “traquitana” dizem que de patente japonesa, adaptável aos vasos sanitários convencionais que é uma gambiarra rebatível, com um chuveirinho no meio. Também merece registro um metal sanitário que parece um bocal de pia (lavatório) presente em muitos hotéis ao redor do mundo que querem agradar a gregos e troianos, verdadeiro bidê “frankstein” destinado a servir de cuia e a lavar cuecas, meias e calcinhas dos viajantes (outros usos mais fálicos devem ser inviáveis pelo reduzido comprimento do bocal). São melhores do que nada, mas não substituem os verdadeiros bidês na sua plenitude tratando-se de meros engodos, como veremos adiante.


Os pudicos que me perdoem o assunto mas não resisto a divagar sobre o tema: como classificar as pessoas, os grupos, conforme o uso ou não do bidê, a forma de faze-lo, de senti-lo, enfim um tratado do tipo “to bidêt or not to bidêt”.


Para isso vamos dar um caráter científico e sistematizar nossos estudos e observações, de forma a podermos ser chamados de “respeitado cientista” pela grande imprensa.


Etimologia e impacto ambiental: Preliminarmente, o colega e amigo Engº Químico J.E.W.A.Cavalcanti, com pós-pós no assunto, informa que a palavra vem do francês arcaico, tendo a ver com a posição de montar para “trotar”. Como o sobrenome dele sugere cavalgar, não vamos discutir esse ponto. A informação está aceita como fidedigna. Cavalcanti informa ainda que pesquisou e fez umas contas, concluindo que gasta-se mais água para fazer papel higiênico do que para um uso convencional-padrão de água para limpar o trazeiro em um bidê (estimou em 50 litros por vez) e que, adicionalmente, face a economia de papel higiênico que os bidês podem proporcionar, caso os EUA adotassem o uso de bidê, poderiam ser poupadas, anualmente, 15milhoes de árvores (atenção leitor, anualmente não tem nada a ver com anus embora o assunto bordeie). Imagine o que a Europa vai fazer ou dizer quando souber dessa Amazônia devastada por “anus-e-anos” pelo não uso do bidê. Pode gerar um conflito seérissimo. Olha a cagada!


Isto posto, a questão pode ser organizada em dois grandes grupos: quanto à POSIÇÃO de uso e quanto ao OBJETIVO do uso.


01_ Quanto à POSIÇÂO de uso: percebemos ao longo dos estudos e pesquisas para elaborar este documento que, basicamente, há quatro “posições”:


01.01 A pessoa fica DE FRENTE para a parede e as válvulas (torneiras) de operação

01.02 A pessoa fica de costas para a parede e as válvulas (torneiras)


01.03 A pessoa fica em pé, uma perna para cada lado do bidê, contando com um jato de água adequado e calibrado para atingir o(a) interessado(a) na lavagem ou na massagem. Não sabemos se a psicolologia já classificou, mas é intrigante. Como parece envolver certo exibicionismo não se sabe se é usada também a sós, embora a narciso bastem espelhos. É possível que, os conservadores sabendo disso, queiram classificar o feito como desvio de caráter e a posição vir a ser proibida por lei.


01.04 A quarta posição é, digamos, involuntária, mas altamente eficaz: a pessoa chega exaltada, com raiva do mundo e, antes de sentar ou se posicionar, abre uma das torneiras de água de repente, sem atentar que a válvula do meio, que desvia a agua, está aberta para o chuveirinho e, surpresa!, toma uma forte jato na cara. Se o jato for de água fria, a pessoa se acalma na hora. Acreditamos que vem daí a expressão idiomática “fica frio”. Amigo nosso presenciou um evento desses e verificou que, com platéia, tem grande apelo humorístico (especialmente com ex-companheira, segundo êle). Solicitamos que outros pesquisadores / observadores nos contem o resultado com água quente ou morna.


Atente-se que a pessoa, ao usar o bidê tem a opção de:


A_ usar a roupa “arregaçada” ou seja, só arriar as calças, calcinhas, cuecas ou

B_ despir-se da cintura para baixo, tirando os sapatos ou não, ou então

C_ despir-se por inteiro.

O uso de calças restringe as alternativas possíveis pois parece impraticável combinar a “posição 1” com a alternativa A, por exemplo. Cada um deve avaliar suas possibilidades acrobáticas, o local em que está (chão limpo?), o tempo que dispõe, etc.


02_ Quanto ao OBJETIVO do uso (a que fim se destina): podemos listar três: LIMPEZA, TERAPÊUTICO e SENSORIAL.


02.01_ Para a finalidade LIMPEZA, há quatro sub-objetivos:


02.01.01_ Lavar a frente, até o períneo, no bidê, parece ser uma ação feminina por excelência. Com efeito, durante todo nosso período de pesquisas (mais de 60 anos) nunca ouvimos dizer que algum ser masculino usasse o bidê para lavar seu “bilau. Nos primórdios, quando se inventaram os “bidets”, era um acessório quase exclusivamente feminino, tendo como objetivo primordial lavar a vagina (das mais metidas) e a buceta das demais. As mulheres usam após urinar e por outros motivos, como por exemplo enxaguar “a periquita” após a ocorrência de fluidos glandulares adquiridos ou produzidos ou os dois. E o fazem com grande eficiência e eficácia. Talvez venha daí outra expressão idiomática: “lavou-tá-nova”. Mas parece que, hoje em dia, tomou uma conotação mais ligada aos ciúmes e ao sexo, o que é uma grande injustiça para com os homens. Afinal nunca se ouviu uma mulher dizer com relação ao órgão masculino “lavou-tá-novo” e se conformar com isso, como os homens se conformam. Em todas estas operações, consta que a água deverá estar morna. Corroborando a origem feminina do uso, registramos o que observamos em alguns locais na Europa com banheiros coletivos (vestiários, alojamentos, etc): só havia bidês nos femininos.


02.01.02_ Latrina: amigas nos contaram que é comum urinar no bidê e, numa mesma operação já se lava a região. Mas, descartando essa concorrência desleal do bidê com a latrina, certamente o bidê foi criado para lavar a “xota”. Fica o registro por uma questão de sistematização


02.01.03_ Lavar a trazeira (o bumbum, o ânus, na verdade o cuzinho) no bidê, é obrigação sanitária, independente de gênero. Pense bem, a pessoa acaba de fazer o “número 2” (eufemismo bobo para cocô muito em voga e que aqui registramos) e, como é comum acontecer, fica algum resquício no entorno do “fiofó”. Ou deu um pum e liberou um restinho que ficou por ali. Vai deixar para a cueca ou a calcinha? Vai passar papel e espalhar esse resquício untando as nádegas? Não vai dar certo! Uma nojeira! Só existe uma maneira civilizada e higiênica de resolver: lavando. Ou entra no chuveiro ou usa o bidê. Por isso o bidê, tecnicamente, deve estar “ao lado” do vaso sanitário, da “latrina”. Essa operação é certamente a mais fácil (mover-se do vaso para o bidê ao lado). Contou-me o engº Fernando Albuquerque, querido amigo e também pesquisador do assunto (grau de PhD pelo IME), que nos edifícios “Joquei Club” (no centro), e “Pimentel Duarte, depois CAEMI” na Praia de Botafogo equina com rua Marquês de Olinda, ambos no Rio de Janeiro, ambos por influencia do famoso empresário Antunes (CAEMI) que indicou o renomado arquiteto Hue, os banheiros masculinos também têm bidê, o que demonstra que o Antunes e o Hue eram pessoas limpas, sabiam das coisas e nos antecederam nesta matéria.


02.01.04_ A quarta e última opção da classificação “Limpeza” é o “lava-pés”. Em nossas pesquisas tivemos notícias de que o bidê se presta a servir de bacia para lavar os pés. O que levará um indivíduo a não tomar um banho e precisar ou querer lavar só os pés? Será verdade o descaso de certos povos pelo banho? Será economia de água?


02.02_ Para a finalidade TERAPÊUTICA


02.02.01_ Hemorroidas e similares: parece que desde a invenção do bidê, este serviu também para, usando água morna, aliviar o sofrimento dos que as têm. Para isso, bastavam os bidês primitivos, sem jato de água, funcionando como cuias (com e sem aditivos farmacêuticos, químicos ou fitoterápicos): a pessoa enche o bidê até quase a borda e, ao sentar encostam o ânus na água quente sentindo-se aliviada.


02.02.02_ Assaduras e similares: irresistivel lembrar que na região do Pantanal há um saboroso peixe, de nome Pacú, anunciado nos cardápios dos restaurantes de Mato Grosso como “prato de Hipoglós” (pacú assado). Testemunhas ouvidas pelos nossos especialistas (engº Alan), contaram que, precedido de um banho no bidê, de cuia ou de chuveirinho, adequadamente quente, a famosa pomada Hipoglós faz melhor efeito. Fica o registro e a recomendação para quem se exceder na pimenta e / ou no coçar, no roçar ou no introduzir.


02.02.03_ Menos surpreendente que lavar os pés no bidê, é imergir os pés em água com aditivos químicos ou fitoterápicos para combater frieiras, pe-de-atleta, fungos, chulé, etc. O bidê estando ao lado do vaso, o usuário senta no vaso e faz isso tudo com conforto. Qualquer pessoa pode fazer isso, mesmo que não use o bidê para os fins que foi concebido. Incluimos nesta classificação atividades de apoio para os pés, tipo cortar unhas, pintar unhas, etc..


02.03_ Para a finalidade SENSORIAL: a classificação exige atenção e criatividade cartesianas dos pesquisadores, algumas independente de gênero, outras mais pra cá outras mais pra lá. Em principio constatamos dois grandes sub-grupos (com variantes): CONFORTO e PRAZER:


02.03.01_ CONFORTO: é inegável a sensação de conforto de um jato de água na região do períneo, seja nos orifícios seja no trecho entre eles. Especialmente se morna em um dia frio ou se fria em um dia quente. Conforto e “relax”. Uma hidromassagem. Não experimentou? Não sabe de nada!


02.03.02_ PRAZER


02.02.02.a_ Masoquismo: Tivemos acesso a relatos de que um jato de água forte no fiofó, dependendo do grau de masoquismo e relevância erógena da região (cada um é cada um!) pode facilmente passar de curiosidade a vício. Com pasteurização e tudo, passando de gelada para quente e voltando.... As pessoas são muito criativas. Deixamos aberto esse campo de investigação para outros pesquisadores. Acrescentamos aqui a colaboração de um arquiteto amigo deste cronista (alô Adir): “o ânus é um orifício que vai muito além de suas funções fisiológicas; é uma área do corpo plena de desejos (não) confessáveis, conforme o caso, como já dizia o velho Freud”.


02.02.02.b_ Complementações. Dizem que “comer e coçar é só começar” (e haja triplo sentido....). Então, no pós-coito, quando a pessoa envolvida (e interessada) agacha no bidê para lavar o território da contenda sem ter terminado (vencido) a partida e, naquele jatinho tépido (morno é para outros fins), começa a dedilhar ou datilografar a região vindo a completar ali as sensações apocalípticas a que tem direito. Ou então, tendo machucado o território em contendas mais selvagens, precisa higienizar e aquecer por ali.


02.02.02.c_ Masturbação pura: Embora pareça que há lugares melhores para exercer o ritual, seja qual for, amigo nosso contou-nos que, em certa ocasião, ainda solteiro, foi chamado pela vizinha, para socorrer a neta (também solteira) que havia desmaiado no banheiro e que, acudindo à cena do crime, constatou ser perfeitamente compatível com o uso do bidê para, com auxilio da água tépida, alcançar o orgasmo. Em certas pessoas, circunstâncias e intensidade, leva a perda dos sentidos.... Dizem até que tem um nome na medicina. Pelo lado da avó, ficou para sempre a dúvida sobre os reais propósitos ao pedir ao vizinho para acudir e sua inocência. Ou sabedoria. Os dois passaram a se relacionar com afinco (como já dizia a avó do compositor Erasmo Carlos: “antes mal-acompanhado-do-que-só, mesmo que seja eu, eu, eu..”., ouçam a letra, vale a pena).


Encerramos esta crônica-dissertação-de-mestrado esperando ter registrado um tema técnico-cultural de nosso tempo, pouco abordado. E estimulado outros curiosos e pesquisadores a que se somem a nós na pesquisa e divulgação de temas importantes e negligenciados por pieguismo.


O motivo inicial da crônica era escrever sobre um professor de engenharia para formar um livro sobre o assunto. Resolvemos falar de algum dos professores não “vedetes”, não exibicionistas, que, não lecionando as matérias tidas como mais importantes ou aterrorizantes, marcam seus alunos pela cultura geral, raciocínio lógico, inteligência, sutileza, honestidade e amor ao que fazem.


E passamos a merecer um título acadêmico, pelo menos MSc, pela originalidade e relevância do tema e pelo esforço. Muitos “mestres” e “doutores” chegaram a esses títulos por muito menos: por confrarias, por necessidades da burocracia salarial ou, o mais frequente: falta de opção.


Miguel Fernández y Fernández, engenheiro consultor e cronista

Tel 55-21-98884-6884,2020set-dez31,Rh2021jun22


















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