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Nomenagens

  • Foto do escritor: Miguel Fernández
    Miguel Fernández
  • 13 de mai. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de mar. de 2023

Um dos assuntos mais frequentes em qualquer roda de conversa, é sobre nomes estranhos que são dados às pessoas pelos pais, certamente com a melhor das intenções ou como uma homenagem, mas esquecendo que a criança vai carregar aquilo pelo resto da vida.


                Às vezes os nomes nem são estranhos em determinadas culturas mas não se inserem bem em outras, são uma tatuagem na testa e os pais ignoram isso. É uma maldade. Como sou descendente de espanhóis conheci “Generosa”, “Purificación”, “Jesus”, e por aí adiante, que no Brasil não soam. O mesmo se pode dizer para outros nomes de outras etnias: Tsipora, Abraham, Salah, .......  O politicamente correto diz que não se deve criticar isso, mas a maioria gera apelidos que inevitavelmente serão adotados.


                Mas o que mais provoca comentários são os nome inventados. Por volta de 2005 li livro norteamericano (não lembro do nome) que trata do assunto nos Estados Unidos e Canadá, e que crucificava o uso do nome "Roxane". Parece que o problema é mundial.


                No Rio Grande do Norte ficou famosa uma família que teve 18 filhos, cujos nomes foram a numeração dos nascimentos em francês: o primeiro chamou-se Premier, o segundo Seconde, o terceiro foi Troisième, assim sucessivamente até o décimo oitavo “Dix-huit”. Chegaram a ser políticos famosos. Mas francamente...


                No censo de 1970 o IBGE encontrou uma Cafiaspirina de Souza.  Se a memória não me falha, as indústrias Bayer, fabricante da cafiaspirina chegou a publicar um anuncio na antiga e famosa “revista Visão” agradecendo a homenagem mas sugerindo que não se fizesse isso.


                Mas o nome que sempre me vem à memória quando este assunto vem à tona é Bergonsil., ouvido pela primeira vez em Cambuquira(MG), em 1961.


                Cambuquira é uma pequena cidade “estação de águas”, como as vizinhas Caxambú, Lambari, São Lourenço e outras, com fontes "surgentes" de águas naturalmente gasosas e ditas medicinais. Os municípios onde ficavam essas cidades foram incluídos no circuito turístico que podiam ter cassinos, o que levou a um desenvolvimento de infraestrutura de hotéis e facilidades. Quando os cassinos foram declarados ilegais (1946), essas cidades tinham uma infraestrutura turística razoável e na época os médicos receitavam uma “estação de águas” de 21 dias para a cura, a recuperação, ou simplesmente a desintoxicação do organismo e as famílias que podiam iam uma vez por ano quase sempre na mesma época e para o mesmo hotel. Acabava todo mundo se conhecendo.


Em 1954 meu pai teve um “derrame de bilis” e o medico receitou uma estação de águas. Ele foi na que podia dentro dos recursos dele. A mais modesta era Cambuquira. Minha avó materna acompanhou-o e minha mãe ficou no Rio trabalhando e cuidando dos filhos. Papai se recuperou e gostou do que viu.


A partir de 1957 passamos a ir anualmente em julho. Primeiro de trem (1957 e 1958?), saindo do Rio no trem para São Paulo, “baldeávamos” à noite em Cruzeiro (SP) (ou seria em Queluz?) para uma estrada de ferro com locomotivas maria-fumaça, e alguns trechos com cremalheira que subia a serra, com a fuligem entrando pelas janelas (as pessoas usavam roupa especial para viajar, que fosse fácil de lavar, alguns usavam jalecos)  passava em algumas pequenas cidades (Passa-Quatro, MG?) São Lourenço, depois em Cambuquira já de madrugada e seguia para Três Corações, Varginha e por aí a fora.  Depois 1959 e 1960, de ônibus, de dia com o trecho Caxambú-Cambuquira em estrada de terra e a inesquecível poeira.


A partir de 1961 passamos a ir de carro. Papai comprou um fusca cor cerâmica. Mas o trecho Caxambú-Cambuquira continuou em terra até pelo menos 1965 (que eu me lembre). Até 1960 ficávamos no Hotel Globo. Em 1961 chegamos lá e o hotel não tinha vaga, não sei o que houve, e fomos realocados para o Hotel Empreza (que era melhor e mais caro).


                O hotel Empreza era propriedade do Afrânio (irmão do dono do Hotel Globo) e da “Frau” Elza, uma senhora alemã viúva do proprietário. O  Afrânio era tido como um próspero comerciante de café (a região até hoje tem um excelente café, dizem que é o melhor do Brasil, com destaque para o café do quase vizinho município de Machado). Eu tinha então 14 anos. As pessoas que conheci e que vim a reencontrar anualmente em julho incluía uma família de Volta Redonda (RJ) um casal com dois filhos. A mãe se chamava Bergonsil, o que intrigava todos inclusive minha mãe que normalmente era muito discreta mas até por isso me lembro dela comentando a estranheza do nome.


                Lembro ainda da família Dagoberto Pereira Franco (se não me engano a esposa era Helvécia e a mãe suíça), de São Paulo com dois filhos com quem fiz muitos passeios a cavalo. O seu Helvécio (homônimo da paulista) que tocava violão e residia em laranjeiras no Rio e a família, a seu Campelo a esposa e a filha Tânia, muito bonita, chamava atenção, também do Rio, se não me falha a memória de Laranjeiras, uma família do Leblon, com uma filha que eu achava linda e, se não me engano, chamava-se Tassiana Ricarda, o seu Calixto comerciante português do bairro do Estácio (tinha uma sapataria), com a esposa e uma filha muito agradável, uma bonita e especial Silvia de São Paulo, um português de Santos, SP, que tinha um carrão americano (um Impala) com uma placa identificando-o como “comendador” com a filha e a neta de uns 10 a 12 anos e que muitos anos depois me reconheceu em São Paulo, já mulher feita e bonita, a Malu, da Farme de Amoedo no Rio com os pais,  enfim...


Mas embora todos estivessem curiosos, ninguém perguntava onde a dona Bergonsil arranjara aquele nome.  Até que um dia soube-se que o nome era uma homenagem ao avô: Bernado Gomes da Silva.  O hotel todo passou um dia inteiro comentando o assunto... eu nunca esqueci.


Em 1977 eu morava na Av Rui Barbosa, no Rio e fiz uma reuniãozinha, vieram uns amigos e umas amigas com os respectivos companheiros e companheiras.  Esse assunto surgiu, cada um contava um nome estranho que conhecia até que eu contei da dona Bergonsil.   Uma dos presentes começou a rir.  D Bergonsil era a mãe dele. Ele lembrava do hotel, da turma... Mundo pequeno....


Miguel Fernández y Fernández,

engenheiro consultor e cronista

 
 
 

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