top of page
Buscar
Foto do escritorMiguel Fernández

Lidando com Zumbis

Atualizado: 14 de abr. de 2023

A VARIG, era a companhia aérea brasileira de renome mundial, até quando faliu em 2006 (ou foi falida, dependendo do interlocutor). Quase todos os brasileiros, mesmo os de gerações mais novas já ouviram falar da VARIG, objeto até de letras de música, poemas, e de um certo orgulho brasileiro no exterior. Era sinônimo de Brasil e mantinha um alto padrão de eficiência técnica e de imagem. Creio que havia até ciúmes do Itamaraty tão gloriosa era VARIG e seus escritórios mundo afora.


Todos que viajaram naquela época têm uma ou mais histórias envolvendo a VARIG. Nesta crônica, registro um episódio que, eu e R.L. (colega que me acompanhou na viagem), presenciamos a bordo de um avião dessa empresa, em um voo Copenhagen-Londres, creio que por volta de 1994, época em que eu ia à Dinamarca quase que todos os anos para os encontros periódicos dos parceiros do DHI (Danish Hydraulic Institute, presidido por Torben Sörensen) grupo do qual fiz parte por 15 anos, com muito orgulho, nos primórdios da modelagem hidrodinâmica, orientados pelo gênio de Michael Abbott.


A VARIG tinha uma licença (concessão) de voo até Estocolmo, passando por Copenhagen do mesmo modo que a SAS (Scandinavian Airlines) tinha para a América do Sul, até Santiago do Chile, passando por Rio e Buenos Aires. O que não tinham eram passageiros suficientes para encher os aviões de forma econômica, daí as empresas faziam acordos entre si (fazem até hoje). Creio que a VARIG voava umas duas ou três vezes por semana até Estocolmo, parando em Londres e Copenhagen, a SAS fazia umas outras duas ou três viagens dessas e a BritshAirways provavelmente estava incluída no rodízio. Com isso, os vôos eram considerados “conjuntos, compartilhados”, a SAS, a Britsh e a VARIG podiam circular com passageiros em qualquer trecho e vice-versa, mesmo se fosse embarcando no Rio para Buenos-Aires ou em Londres para Copenhagen ou vice-versa.


Outro preâmbulo importante é sobre o hábito que muitos europeus já tinham e ainda me parece que têm de ir encher-a-cara em países vizinhos ou quase. De fato, nota-se que suecos vão à Dinamarca, à Noruega, à Alemanha e à Inglaterra não digo que com esse objetivo, mas com essa consequência. E vice-versa. Com destaque para os Ingleses, que além de embebedar-se, ainda criam confusões maiores pois vão em grupos e “em grupo” todos ficam mais valentes. Portanto, quando há algum pretexto para irem em grupo a coisa complica. Jogos de futebol, partidas de tênis, acho que até de xadrez é pretexto para juntar uma caravaninha a: álcool etílico. E certamente algum talco e outros farináceos. Criou-se até um adjetivo para a turma: os “holligans”.

Então, estávamos decolando de Copenhagen para uma longa viagem de volta ao Brasil parando em Londres em um “equipamento” da VARIG (um enorme boeing não-sei-que-número), com três fileiras de assentos e dois corredores. Brasileiros, uns poucos 20%, uns 30% de todas as nacionalidades e muitos ingleses falando em voz alta, talvez 30% do avião, com uns 80% de lotação.


Acho que o avião ainda não estabilizara na altitude de cruzeiro quando um passageiro, um inglês grandote, vamos chamá-lo de JohnnieFighter (corresponde ao JohnnieWalker) começou a criar problemas no corredor de boreste (eu e RL viajando no de bombordo). Levantou da cadeira gesticulava empurrava os outros e a situação começava a sair do controle com diversas pessoas no entorno levantando-se ao mesmo tempo.


Então, o comissário (o aeromoço) se aproxima do Johnnie pela frente e o enfrenta, atraindo a atenção para si. Nisso, uma comissária (aeromoça), se aproxima do Johnnie por trás e “zás”, enfia um puçá, um saco, pela cabeça do arruaceiro até os pés e puxa duas cordinhas enroladas helicoidalmente no saco que, de certa forma, diminuíam os movimentos do “ensacado” Johnnie. Por fim, o ensacado é derrubado no corredor com certo cuidado para que não se machucasse, mas totalmente contido e vencido, esperneando, gritando abafado dentro do saco, na verdade grunhindo, mas a surpresa foi tamanha que houve um silencio seguido de palmas entusiasmadas dos passageiros.

Uns dois ingleses que estavam com o Johnnie ensaiaram um protesto, mas a aeromoça fez ver que tinha mais sacos daqueles, os dois se acalmaram pela própria natureza, o voo seguiu normal e tranquilo até Londres, onde a polícia esperava a turba. O saco com o Johnnie foi retirado em primeiro lugar pela famosa polícia inglesa, que de gentil não mostrou nada, tendo levado o conterrâneo da forma mais “machucante” possível (talvez para mostrar ao Johnnie o descontentamento com a propaganda negativa para os ingleses).

A tripulação foi trocada pois lembro que aquela turma fizera Lon-Cop-Est-Cop-Lon. A VARIG ofereceu champagne e “hors-d’oeuvre” da primeira classe a todos os passageiros daquele trecho na escala de Londres, que demorou um pouco mais, mas como a sala vip era boa, ninguém reclamou.


Nunca mais vi nem ouvi falar desse “puçá” de gente e das diversas vezes que contei sobre esse episódio, só conheci uma pessoa que viu coisa parecida, também em avião, na década de 60. Fica o registro pois pode ser interessante para conter gente que surta, e zumbis agressivos, minimizando violências e riscos para os dois lados: o que necessita ser contido e o que tem o encargo de fazê-lo.








Miguel Fernández y Fernández

Engenheiro consultor e cronista, abr2023

5.350 toques, tudo incluído

28 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page