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Foto do escritorMiguel Fernández

Causos do congresso

Atualizado: 17 de abr. de 2023

A solenidade de abertura, no novíssimo São Paulo Expo, tinha uma novidade: o palco era rodeado por fileiras de poltronas. Alguns acharam que não daria certo. Mas deu. Todos de terno e gravata ou vestidos de festa. Eu acompanhando dois convidados internacionais, o Eng. Ventura Bengoechea, representando a AWWA (American Water Works Association) e o eng° Becerra Coelho, diretor da Coorasan (Cooperativa de Águas de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia), que vinham falar sobre modelo institucional inexistente no Brasil: as empresas públicas não estatais, ou cooperativas de usuários. Estávamos sentados junto a um corredor que dividia dois setores do auditório.


No setor adjacente, também junto ao corredor, estava sentada uma querida, bonita e simpática jovem engenheira, profissionalmente militante/ativista da ABES e politicamente petista (Partido dos Trabalhadores). Quando os políticos falavam (e o ex-presidente FHC se entusiasmou no microfone, fazendo lembrar Fidel), todos batiam palmas, menos a colega.


Lembrei-me então de quando era criança e lia os gibis de Walt Disney, em especial do Pato Donald e seus personagens, Tio Patinhas o avaro, Gastão o sortudo, professor Pardal, o “inventor”... Em um episódio que, vejo, não esqueci, o professor Pardal tratava de inventar uma “lâmpada escura”, que consistia em uma lâmpada que, uma vez “acesa” (ligada), ao invés de clarear o ambiente, absorveria a luz presente escurecendo o entorno, geringonça que até hoje considero um desperdício não ter sido desenvolvida pela indústria nem pelas universidades. Imagina a economia em cortinas!!!


Ali, naquele momento, naquele auditório, concluí que a colega havia desenvolvido um dispositivo análogo ao que o professor Pardal buscava: um “dispositivo do silêncio”. Tal qual um buraco negro, absorvia o som do entorno. Outra boa idéia para tese de mestrado-doutorado: imagina a economia em isolamento acústico!!! Imagina a praticidade!. Como diria Nelson Rodrigues, só os cegos não viam! A colega conseguia absorver o som dos discursos, das palmas, dos cochichos, transformando em silêncio o entorno! Pela primeira vez éramos testemunhas do funcionamento de tal invento neste planeta (será que Disney cobrará royalties?). E foi assim até que o maestro João Carlos Martins e a camerata atacaram de Vivaldi e Villa Lobos: a colega saiu do transe e aplaudiu entusiasmadamente, interrompendo a experiência do “buraco-silêncio” (politicamente mais correto que buraco-negro)...


Em outra ocasião, assistimos a um episódio hilário: um colega, cujo nome não vamos citar, iniciava sua palestra e, como havia público de fala inglesa e de fala espanhola, perguntou, a sério, se os presentes preferiam que falasse em inglês ou em espanhol. Nosso conferencista, então, falou umas 10 palavras em portunhol, passou para o português e foi na língua de Camões até o fim, sem se dar conta, apesar dos risinhos generalizados, em especial do moderador que (maldade) fez diversas intervenções em inglês e em espanhol sem que a pessoa se desse conta...


Miguel Fernández, engenheiro consultor, cronista e articulista

Rio de Janeiro, publicado na Revista ABES Bio, em 24 de novembro de 2017.




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