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Bijuteria não!

  • Foto do escritor: Miguel Fernández
    Miguel Fernández
  • 17 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 25 de out. de 2024

1978, a moça, mineira, funcionária do Banco do Brasil, morava no Rio, em apartamento recém alugado, na rua Ipiranga, esquina com a Conde de Baependi.

Um edifício arredondado, sobre pilotís, com grades no perímetro da rua, em Laranjeiras, seriam umas 20horas e ela já estava no térreo aguardando a chegada do namorado, trocando ideias com o porteiro e uma outra moradora.

O VW modelo brasília laranja chega, joga as duas rodas da esquerda na calçada, como era praxe no Rio de então. O porteiro abre a porta da grade, a moça sai, contorna o carro pela frente, entra e senta no banco do carona.  Os dois torcem o corpo um para o outro e aproximam os rostos para o beijinho de praxe.

Quando o rapaz volta o corpo para a frente e põe as duas mãos no volante, sente algo cutucar seu pescoço pelo lado esquerdo através da janela do carro. Volta-se para ver o que era e vê uma garrucha cano duplo com os cãos puxados, que lhe era mostrada, e imediatamente volta para o seu pescoço. Numa rápida avaliação da situação com seu olhar periférico (o serviço militar serviu para essas coisas) eram dois assaltantes, enquanto um rendia o porteiro e a jovem que trabalhava no prédio o outro lhe dizia:

_ Passem as joias.

O rapaz só tinha um relógio Omega Seamaster, comprado em 1965 na fábrica da Omega, na Suíça. Trazido pelos pais de uma viagem à Europa em excursão pela Meliá, que se permitiram. Entregou. Com muita tristeza, mas entregou.

_ A carteira! Também entregou.

E a garrucha cano duplo encostada no pescoço...  

_ “Essa porra com os cãos puxados vai disparar sem querer!”

O assaltante então se dirige à moça que, nervosa, embora sem a garrucha no pescoço, demora a tirar os brincos e a pulseira.

O outro assaltante, controlava o entorno, aparentemente com um revólver 22 e que parecia ter ascendência sobre o da garrucha, se impacienta com a demora e grita com a moça: não quero bijuteria não, dá logo a aliança.

E a moça, “subindo nas tamancas”:

_ Isso não é bijuteria não, moço!

E o cano duplo no pescoço do rapaz começou a tremer junto com o próprio rapaz. Ambos estavam rindo da situação. Ambos não, todos, menos a moça, ainda indignada com a afronta.

Aliança entregue, junto com as demais joias, os dois assaltantes saem caminhando apressados, mas não muito, pela contramão na direção da rua das Laranjeiras.

Foram-se os anéis, ficaram o pescoço e as vaidades.

Casaram-se, tiveram muitos filhos e não viveram felizes para sempre.

 



Miguel Fernández y Fernández, engenheiro e cronista-narrador (os fatos são reais)

2528 toques, escrito em set2024

 

 

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